Pelos vencidos sempre !

"..(..)... Não te poderás considerar um verdadeiro intelectual se não puseres a tua vida ao serviço da justiça; e sobretudo se te não guardares cuidadosamente do erro em que se cai no vulgo: o de a confundir com vingança.

A justiça há-de ser para nós amparo criador, consolação e aproveitamento de forças que andam transviadas; há-de ter por principio e por fim o desejo de uma Humanidade melhor; há-de ser forte e criadora; no seu grau mais alto não a distinguiremos do Amor.

Por isso mesmo estarás sempre ao lado dos vencidos que se tratam com arrogância, com brutalidade ou com desprezo; não te importarás que as suas ideias sejam diferentes das tuas, mover-te-á o olhares que são homens e não hás-de duvidar nem um momento da infinita possibilidade que neles há, de um mais definido pensamento e de um mais perfeito proceder; não os vejas como condenados para sempre à mesma estrada que tomaram; que exista para ti a esperança das reflexões e dos regressos.
Ao teu amigo ou adversário dirás sempre a verdade a respeito dos vencidos, sem que te impeçam o afecto ou o ódio: levanta a voz, seja qual for o lugar e o instante, a favor dos que, tombados na luta, ainda têm de sofrer as prepotências; protesta, enquanto te deixarem protestar, contra a vileza, contra a cobardia dos que esmagam quem têm à mercê, dos que torturam os corpos e as mentes, dos que se armam contra os desarmados; e, quando não te deixarem protestar, protesta ainda mais.

Nessa batalha a ninguém feres; vais servir os próprios que censuras; pode ser que às tuas palavras se convertam os Césares e deixe o centurião tombar a espada; pode ser que os cativos se redimam; mas, se nada conseguires de imediato, terás dado ao mundo um exemplo de liberdade interior e de firme coragem; terás lançado a tua pedra -- e não das menores -- para a grande construção; terás ganho para a vida uma força ante a qual, mais tarde, se hão-de aplanar os ásperos caminhos e abater os alterosos obstáculos. (...).

Autor: O saudoso Agostinho da Silva (c)

Extraído dos seus Textos e Ensaios Filosóficos I

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