A massa de que são feitos os patrões de Portugal !

Os patrões em Portugal, e é assim que eles se intitulam nas associações, e não como empresários ou menos ainda como empreendedores, que infelizmente quase não temos, salvo umas honrosas e poucas excepções, são temperados de uma massa especial e em geral herdaram algumas das características do típico burgesso português!
Os patrões de Portugal genéricamente apresentam uma cultura geral bastante baixa, não sabem lidar com recursos humanos, não imaginam sequer, ou não querem saber o que é uma liderança séria, e olham sempre para os colaboradores como empregados (ou seja "gente inferior" em que eles mandam como querem, e até onde podem livremente despejar as suas frustrações e complexos no seu dia-a-dia!). Não impera o respeito nem a consideração pessoal e menos ainda a profissional.

Aliás, basta olhar para o panorama das empresas em Portugal, a sua (falta) de organização, a sua forma típica de trabalhar, sempre com os modelos e princípios retrogrados e baseados na "mesmice", para se concluir facilmente que de patrão a burgesso vai um pequeno passo, a diferença é mesmo muito ténue, e esta é a minha opinião confirmada pela experiência de campo ao longo de muitos anos, e lidando com muitas empresas, desde as mais pequenas até às grandes empresa privadas e públicas (esta é a regra e as excepções só confirmam a veracidade da primeira).
A falsidade e a imoralidade são o seu forte, nas jogadas de submissão a que se atêm, na perspectiva de imporem o seu poder pela força e ignoram sobretudo aquela máxima, se não estou em erro, de Napoleão Bonaparte "de que o poder que lhes é conferido, não é para ser usado, pois de cada vez que se usa vai-se gastando". E ninguém ainda soube explicar a estes senhores, ao fim de tantos anos (e em pleno Séc XXI), ou eles não querem de todo aprender, que o poder é efémero, sobretudo quando é conferido apenas e se usa impondo-o pela força, e não conquistado e exercido de forma natural através do respeito, da consideração pessoal, do desenvolvimento de ralações humanas sãs, e da competência profissional.

E depois, a agravar tudo isto, também desconhecem regras básicas, que se ensinam em psicologia humana (e isto apesar de muitas e muitas empresas até terem departamentos de RH e técnicos com os conhecimentos adequados), o poder sempre e sempre a ser usado, cansa as pessoas e leva-as sempre ao desânimo, à frustração, e mesmo à mais completa exaustão, e essa é a mais triste realidade das relações de trabalho em Portugal !

Os patrões lusos preferem ainda a adulação, a submissão e a subserviência ao profissionalismo e à competência, não são capazes de delegar; usam a punição e a chamada de atenção, mas nunca o elogio; não compensam o esforço nem a competência, antes preferindo compensar quem se lhes submete e é o informador "pidesco" de serviço; não têm estratégias claras sobre os objectivos a atingir (individuais e/ou de grupo); ao invés do que seria desejável, praticam 80% de improvisação para 20% de planeamento / estratégia; tentam sempre tirar partido da fraqueza do trabalhador em vez da motivação adequada de forma a que pudessem tirar partido máximo do seu potencial; usam as mais elementares e até às vezes, fraudulentas técnicas de dividir para reinar, etc.

Com todas estas práticas destrutivas, colocam assim a sua empresa na rota do maior falhanço da produtividade, eliminando de todo qualquer capacidade de colaboração dos seus trabalhadores, o que é talvez o mais valioso contributo e forma de trabalhar nos dias de hoje, já que a inovação, factor primordial para as empresas serem bem sucedidas nos tempos que correm, é impossível ocorrer sem o factor colaborativo e o empenhamento pessoal estarem mínimamente assegurados.

Em suma são autênticos assassinos (mas convictos) da produtividade individual e de grupo, e cuja actuação de verdadeiro "burgesso" tem como único fim explorar tudo e todos, desde que para ele resulte lucro e dinheiro "vivo", não respeitando sequer os compromissos com o estado (o Estado também parece não se importar muito!!) , e sempre na mira da mais absoluta fuga ao pagamento de impostos, a que está sujeito legal, moralmente e civicamente.

Mas aqui também a moral e o civismo não são própriamente o seu forte, como atrás ficou bem patente. São assim os patrões de Portugal, e a (falta) de produtividade e (falta) de competitividade são o resultado das metodologias que em regra geral adoptam as empresas geridas por estes "gurus" da gestão lusa, através do emprego muito bem conseguido e melhor aplicado, de algumas das "melhores práticas" que acima mencionei.

Aliás, há ainda outro fenómeno bem perverso que faz parte da "prática empresarial deste país", embora também exista noutros países, e de que acima não falei propositadamente, porque este merece um parágrafo especial, tal é a gravidade do mesmo. Estou aqui a falar do fenómeno de "mobbing", mais conhecido por assédio moral, que é um crime perverso e hoje prática comum nos atentados contra os trabalhadores nos seus locais de trabalho, perpetrados pelas chefias lusas, sem que a legislação nativa ofereça qualquer protecção para este fenómeno, que afecta não só gravemente a saúde dos próprios trabalhadores, como é mais um factor importante de quebra na produtividade individual e ainda um prejuízo para o país, nomeandamente pela enorme quantidade de baixas médicas que este fenómeno produz anualmente.

Estima-se que existam mais de 100,000 trabalhadores a sofrer diáriamente na pele estes atentados por parte dos "patrões" e suas "chefias", contra os seus empregados nos próprios locais de trabalho. Para mais detalhes sobre este fenómeno :
Há assédio moral em excesso no trabalho e nas empresas em Portugal - Como fica a colaboração e o "Team-Working" nas empresas? ( http://fgonblog.blogspot.com/2009/05/ha-assedio-moral-em-excesso-no-trabalho_06.html ).

Eu por último apenas acrescentaria que qualquer ferreiro ou sapateiro na Idade Média faria o mesmo, ou até melhor!

Mia Couto acrescentará algo mais e dirá melhor que eu : ( http://www.facebook.com/notes/francisco-goncalves/pobres-dos-nossos-ricos-/10150192378884925 ).

Francisco Gonçalves
14 May 2011
Francis.Goncalves@gmail.com
Nota:
1) Definição de Burgesso, dict. de Português - diz-se de pessoa com falta de bons modos, rude, bruta, e mal educada / mal formada.
2) Para os Patrões, Empresários e/ou Empreendedores que não se revêm no descrito nesta nota, decerto não têm empregados, mas sim colaboradores e estes reflectirão no seu balanço, os activos intangíveis bem mais preciosos!
3) A Gestão de talentos no Séc XXI - ( https://docs.google.com/present/view?id=ajkr37d8bd33_11613hfgc2jdx ).

Comentários

Unknown disse…
O que aconteceu entre 1536 e 1821 em Portugal e nos países do sul mostra bem ao que chegou esta geração de gente atrofiada pelo medo e subserviência !!!

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