Há assédio moral em excesso no trabalho e nas empresas em Portugal - Como fica a colaboração e o "Team-Working" nas empresas?

No inicio de Outubro do ano passado (2008) surgiram na imprensa, noticias que davam "o assédio moral no trabalho como uma grave situação e em franco crescimento em Portugal".
De acordo com o código de trabalho, há assédio moral quando se verifica um comportamento "com o objectivo ou o efeito de afectar a dignidade do Trabalhador e criar um ambiente intimidativo, hostil, degradante, humilhante ou desestabilizador".
Este fenómeno que poderá parecer apenas mais uma situação de discriminação, é no entanto um autêntico flagelo para a sociedade e a economia de um País, já de si débil em termos de cultura de colaboração, empreendedorismo e inovação generalizados, aspectos fundamentais para o progresso e maior criação de riqueza, na era que vivemos.

Como tal este fenómeno não é apenas Português, existindo inclusive em alguns Países da Europa legislação que enquadra e pune especificamente estes comportamentos. Em inglês designa-se por
"mobbing" ou seja "toda a violência moral ou psíquica no trabalho: actos, atitudes ou comportamentos de violência moral ou psíquica em situação de trabalho, repetidos ao longo do tempo de maneira sistemática ou habitual, que levam à degradação das condições de trabalho idóneo, comprometendo a saúde ou o profissionalismo ou ainda a dignidade do trabalho" (Ver mais Info ).

Na prática, a estratégia mais vulgar passa por colocar o funcionário "na prateleira" (expressão bem Portuguesa e cada vez mais frequente), muitas vezes sem computador e até sem acesso ao telefone. Mas o isolamento é apenas um dos métodos maquiavélicos mais usados. Isolamento não só físico mas também social porque os seus colegas chegam a ser instados a não conviver com o "
emprateleirado", tornando-o uma autentica "peste negra", de que ninguém se deve aproximar sequer. Tal é o terrorismo provocado por estas entidades medíocres.
E ainda pior, quando estes actos maquiavélicos levam aditivos e assumem ainda mais requintes de malvadez pérfida, já que são apenas motivados para desequilibrar profissionais competentes e sérios, que segundo este tipo de chefias, "os podem colocar em xeque", pela capacidade de realização pessoal e profissional e também por "dizerem verdades inconvenientes".

Estes comportamentos passam por humilhação, degradação das condições trabalho, hostilidade e postura pela negativa face ao trabalho prestado. E tudo isto para levar os profissionais ao desânimo e à desistência.
É também sobretudo um
crime, quer contra o trabalhador, mas sobretudo e principalmente contra a própria Empresa, que apenas perde com estas atitudes de chefias "doentes" e "de mal com a vida e com os outros" e que apenas sabem "chefiar" usando o seu "pequeno e mesquinho poder para atormentar os outros, que de si dependem hierarquicamente. Também não se importam com as consequências para a Empresa, que as suas posições completamente desequilibradas assumem.

E é muito usual colocar na "prateleira" não só quem é categorizado como "não prestando profissionalmente, mas sobretudo e principalmente porque se trata de um subordinado incómodo que "fala verdades" não interessam à chefia directa pessoalmente e ainda porque é um profissional que tem realizações e competências que também incomodam. Aliás este ultimo é um dos grandes motivos para que as chefias deste tipo, ao sentirem-se "de algum modo ultrapassadas tecnicamente ou nas suas funções", tomem como medidas perseguir o seu colaborador, até o levar a desistir do seu projecto profissional.
Normalmente trata-se de uma perseguição individual determinada por uma chefia, que confiante no poder hierárquico que tem, se move na obscuridade da sua Empresa, ocultado pela inflexível estrutura hierárquica vigente, para executar este tipo de
crimes, apenas e tão só motivados por questões psicológicas e de índole meramente pessoal e bem subjectiva.

O que mais lhes importa (a este tipo de "chefias") é demonstrar o seu poder, perante posições de vantagem hierárquica, que lhes foi conferida pela Empresa. Isto leva a que as Empresas não obtenham a produtividade que lhes era devida, em função destas chefias, na maioria intermédias, que não tem qualquer capacidade de liderança nem competência, e que apenas dominam pelo poder que lhe confiaram à partida. São sobretudo estas chefias castradoras e pouco equilibradas que bloqueiam o diálogo e impedem a produtividade, a cooperação e a inovação nas Empresas Portuguesas, em geral.

Normalmente estes comportamentos patológicos tem como consequências para as Empresas, a de que são os melhores colaboradores e os mais profissionais que acabam por sair, restando-lhe apenas os que de alguma forma se acomodam e ainda os mais medianos e até medíocres.
É pois nesta "apologia da mediocridade" que hoje se vive nos meandros de muitos sectores da função pública e mesmo em muitas das empresas privadas, alinhavada na sua grande maioria pelas famosas "cunhas" e compadrios de que nos tornámos, nós todos os Portugueses, reféns. E refém fica o progresso da Nação e também o futuro dos nossos filhos e das próximas gerações.

A UGT está neste momento (Outubro/2008) a trabalhar numa proposta a incluir no Código de Trabalho que moralize e penalize mais duramente este tipo de assédio moral, que convive passivamente, é mesmo tolerado e considerado na sua maioria um tabu hoje ainda nas empresas, mas que, e convém não esquecer, é um crime hediondo contra o individuo (trabalhador), a empresa e também contra a sociedade. São de prestigiar estas acções que os Sindicatos e os Governos possam levar a bom termo no sentido de não deixar degradar ainda mais as relações de trabalho em Portugal.

Mas esta situação não é apenas uma praga que deva ser apenas indagada pelos Sindicatos e eventualmente de alguma forma precavida pelos Governos. Ela é mais do interesse dos gestores e administradores das Empresas, mas ainda e principalmente também dos seus accionistas, que continuam a reclamar sem sentido da produtividade dos trabalhadores portugueses.
E urge fundamentalmente também agir no plano da prevenção, como forma de conter estes atentados ao progresso e à dignidade humana, actuando-se no domínios da formação de recursos humanos, dentro e fora das empresas e responsabilizando directamente as empresas e os seus gestores também pela prática activa dessa prevenção, à semelhança do que por exemplo o Brasil está a desenvolver em termos legislativos sobre a matéria, e mesmo as campanhas de sensibilização envolvendo todas as comunidades de um país.

Como tal, falta ainda e sobretudo a capacidade de denunciar estas situações e empresários com dinâmica e estratégias de (
RH) recursos humanos de futuro, que percebam de uma vez por todas estas envolventes perniciosas e altamente penalizantes para as suas Empresas e decidam começar a combatê-las sem redenção, varrendo de vez esta insanidade reinante nas relações de trabalho.

Não vislumbro outra forma de Portugal aspirar a melhorar a sua produtividade no quadro das nações Europeias e estimular ainda mais a competitividade numa base séria, com empreendedorismo, verdadeiro espírito de grupo, inovação e criatividade, que certamente dará ainda mais resultados positivos no futuro.
Mas para isso também é preciso que todos nós acreditemos que é possível mudar este estado de "prostração", em que nos encontramos e contribuir todos os dias, nos respectivos locais de trabalho, para criar um País melhor, mais são, mais activo, colaborativo e participado, e a capacidade de resistir e ajudar a combater este autêntico flagelo que desvirtua e distorce valores, ética, moral e a própria sociedade.

Só deste modo sério, competente, enquadrando verdadeiros valores morais e éticos e desenvolvendo um espírito de comunidade aberto e colaborativo sempre no sentido de credibilizar os trabalhadores (o tal activo intangível de valor de que tanto se tem falado nas últimas décadas!!!), será possível começar a melhorar finalmente os indíces de produtividade, eficiência e eficácia desejáveis e necessários para que possamos competir e exportar com segurança e garantia de futuro.
Eu sou dos que ainda acredita que, mesmo em Portugal ainda é possível reverter este estado de sítio !!!!!. E você ?

Francisco Gonçalves (2009),
IT Architect & Open-Source Solutions Advisor.

O que é o fenómeno de Mobbing e os seus efeitos devastadores sobre a sociedade, quer em termos de economia, quer em termos de saúde pública.



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